quinta-feira, 25 de julho de 2013

Radiação em viagem a Marte é ameaça à saúde de astronautas



Os cientistas sempre souberam que um dos maiores desafios para uma viagem tripulada a Marte era a radiação cósmica. Agora, um novo estudo coloca números firmes sobre o tamanho do desafio --por ora, além da tecnologia disponível.

O resultado é fruto de um instrumento instalado a bordo da espaçonave que levou o jipe Curiosity até o planeta vermelho, numa viagem de pouco mais de oito meses.

O RAD (sigla para Detector de Medição de Radiação) conseguiu medir a incidência de raios cósmicos no interior do veículo durante 220 dos 253 dias de trajeto.

Uma das constatações é de que há grande variação de um dia para o outro, pois boa parte da radiação que incide sobre a espaçonave tem origem no Sol, cuja atividade é variável ao longo do tempo. O resto vem das profundezas do espaço interestelar --em menor quantidade, mas com mais intensidade.

Tirando a média e estimando um tempo de trajeto mais curto para uma nave tripulada --180 dias apenas-- nas condições encontradas pelo Curiosity em sua jornada, a exposição da tripulação seria de cerca de 0,33 sievert (unidade usada para estimar nível de radiação).

"Considerando que a proteção oferecida pela espaçonave MSL [Mars Science Laboratory, veículo que levou o Curiosity a Marte] provavelmente não é drasticamente diferente da do Crew Exploration Vehicle [nave projetada pela Nasa para voos de longa duração] ou de outros veículos futuros, as doses de radiação reportadas são provavelmente realistas para missões humanas de longa duração com tempo similar", afirmam Cary Zeitlin, do Southwest Research Institute (EUA), e seus colegas, em apresentação de seus resultados no periódico "Science".

LIMITES

Considerando que um ser humano pode aguentar 0,6 a 1,2 sievert durante seu tempo de vida (dependendo do sexo e da idade) sem aumentar significativamente seu risco de câncer, parece até seguro, não?
Acontece que a maioria dos seres humanos que vão para Marte deseja voltar de lá. Somando o tempo da volta (novamente com otimistas 180 dias), a exposição total seria de 0,66 sievert --já acima do limite mínimo.

Para piorar, ainda há o tempo no planeta vermelho, onde há menos radiação que no espaço, mas ainda assim bem mais que na superfície da Terra (Marte tem uma atmosfera muito rarefeita, sem ozônio, e nenhum campo magnético que rebata as partículas para o espaço).

E a cereja do bolo: durante a viagem do Curiosity, o Sol andou particularmente calminho. Mas nem sempre ele é tão gentil.

Moral da história: com a tecnologia atual, a saúde dos astronautas estaria seriamente ameaçada. Seria mais ou menos como fazer uma tomografia de corpo inteiro a cada seis dias --algo que nenhum médico recomendaria.

Fonte: Folha de São Paulo

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